Do Portal Betioli, por Aline Araujo

Em uma palestra dinâmica e descontraída, durante a Wine Weekend em São Paulo, Eduardo Viotti, editor da revista Vinho Magazine, falou sobre o processo da fabricação do vinho tinto. Prendendo a atenção do público, o brasileiro que degusta cerca de 3 mil rótulos por ano explicou qual a melhor forma de apreciar o vinho em sua plenitude. E ainda, durante a conversa, foram servidos 3 tipos de vinhos entre safras portuguesas e chilenas.

Viotti explicou sobre cada uva usada na fabricação, da fermentação até a chegada ao consumidor, passando por diversos países e suas uvas únicas. Abordou também a variação de temperatura para a colheita e tempo para chegar ao produto final. E pontou que em alguns países, como França e Itália, o vinho tinto só é apreciado quando harmonizado com a gastronomia local.

Antes de  degustar cada vinho é importante usar os sentidos para uma degustação completa. O vinho não pode, por exemplo, ser agitado antes de se sentir o aroma presente na bebida.

E, após a palestra, entre fotos e conversas com o público, Eduardo Viotti tirou um tempinho para conversar com o Portal Betioli. Confira nossa entrevista com mestre em vinho:

Em pouco mais de 16 anos de degustação, provando mais de 3 mil rótulos por ano, você encontrou algum sabor que tenha te marcado?

Eduardo Viotti: Então, essa é a hora que todo mundo costuma dizer sobre aquele vinho caríssimo. Eu já tomei quase todos os vinhos caríssimos do mundo, mas não foram eles que mais me marcaram. Na verdade, o vinho que mais te marca é aquele que você toma naquela situação bem legal, envolvido por alguma coisa, por uma boa atmosfera, um lugar bonito ou com uma pessoa que você ama ao seu lado. E é isso que faz os grandes vinhos.

Como você vê o crescimento do consumo de vinho no Brasil?

Eduardo Viotti: Existem dois aspectos importantes: o primeiro é que o conhecimento do brasileiro sobre vinho está aumentando exponencialmente. O acesso a informação de vinho hoje é muito mais ampla, todo mundo dá uma zapeada antes de comprar o vinho. Olham onde é feito, qual o sabor e se algum bacana já deu nota legal para ele, então o acesso ao conhecimento transforma o consumidor. A outra coisa é a questão do consumo per capita – acho que está mudando e bastante. Não só aumentando, mas demora a refletir na estatística. Primeiro que no Brasil não tem uma pesquisa específica sobre isso, mesmo sendo uma população de mais de 2 milhões de habitantes. Então até você refletir sobre a evolução por pessoa, por ano, demora muito tempo, precisa tomar muito vinho, mas certamente hoje se toma vinho de melhor qualidade.

Você pode nos falar um pouco sobre o manifesto que você sugeriu sobre o vinho se tornar patrimônio cultural brasileiro?

Eduardo Viotti: Estamos tentando e adoraríamos que isso acontecesse, que o vinho fosse tratado como um elemento cultural, assim como existe o movimento liderado pelo nosso queridíssimo Alex Atala – “Eu como cultura”-, que é muito legal. Eu gostaria de inseri-lo nesse contesto porque o vinho acompanha as manifestações culturais do brasileiro há pelo menos 400 anos. Os portugueses trouxeram o vinho, as missas sempre foram realizadas com o vinho, isso faz parte da liturgia da religião católica. Então o vinho está muito presente; por isso, eu acho que merece esse tratamento de bem cultural.

Eduardo ainda nos contou que voltou há pouco tempo de uma viagem de Alba, norte da Itália, onde provou quase 1.000 rótulos em menos de cinco dias.