Retratos da família brasileira inaugura Espaço Cultural BNDES
De 27 de julho a 9 de setembro, o público vai poder voltar no tempo e apreciar fotos raras tiradas entre 1850 e 1960 que retratam a família brasileira. A exposição Retratos da Família Brasileira, composta por 800 fotografias da coleção do psicanalista, cineasta e fotógrafo José Inacio Parente estará disponível para visitação do público, na Galeria do Espaço Cultural BNDES, no Centro do Rio de Janeiro.
A exposição mostra não apenas o panorama histórico da família brasileira entre meados do século XIX até a década de 60 do século XX, mas também evidencia a evolução da fotografia no País. A vernissage será realizada no dia 26 de julho, às 18h00, no mesmo local da exposição.
“Eu tinha acabado de fazer o livro ‘Pai presente’ (2006) quando comecei a frequentar feiras de antiguidades. A idéia era adquirir fotos para fazer um outro livro, dessa vez com fotos antigas de pais e filhos”, conta José Inacio. Só que a procura foi se expandindo e, naturalmente, começaram a entrar mães, sobrinhos, netos, tios, avós… Atualmente, a coleção tem 10 mil fotografias, resultantes de muito garimpo em feiras e antiquários além de doações de amigos, instituições e permutas. São fotografias quase sempre de pessoas anônimas, realizadas com praticamente todas as técnicas e originárias de todos os estados brasileiros, produzidas durante mais de um século. “Há três anos ganhei o prêmio Marc Ferrez, do Minc, para catalogá-las e disponibilizá-las em um site para pesquisas”, diz.
Para a exposição, José Inácio, que também é o curador, explica que achou melhor dividir esse recorte da coleção em temas. São crianças, jovens, rituais como primeira comunhão e casamento, famílias numerosas e até automóveis e brinquedos. Algumas fotos estão em grandes formatos. “Definir o que é família não é fácil. Há, por exemplo, uma foto de 1860 de um senhor. Isso é família? Claro! Porque podemos não saber nada sobre ele, mas certamente tinha seus laços familiares”, cita.
Primórdios da fotografia
Entre os itens mais raros exibidos na exposição Retratos da Família Brasileira, estão imagens feitas com técnicas anteriores à descoberta do negativo. O Daguerreótipo, criado em 1839, é uma imagem fixada sobre uma placa de cobre que, dependendo do ângulo em que se observe, fica positiva ou negativa. Há também o Ferrótipo, processo de impressão sobre uma chapa de ferro revestida com esmalte; e o Ambrótipo, imagem fotográfica positiva sobre placas de vidro. Por serem imagens únicas, são hoje relíquias históricas.
Outros exemplares curiosos são os retratos pintados e as lonas. Os primeiros, muito difundidos na zona rural, eram feito por retratistas que, a partir de imagens deterioradas, faziam ressurgir novos personagens, dando-lhes cor e vida, mesmo depois de mortos, acrescentando adereços, roupas e joias. Já as lonas eram muito usadas em festas religiosas, também no interior, onde as pessoas se colocavam na frente de painéis ou enfiavam a cabeça em buracos feitos no pano para serem fotografadas pelos lambe-lambes.
Os cartões exóticos são outros itens da coleção de José Inácio. “Tem alguns bordados com linha, outros com fotos sobrepostas, alto relevo, com detalhes até mais interessantes do que a própria imagem. Um em especial tem a foto de uma mulher com uma caixinha colada escrito ‘felicidade”. Dentro dela, uma carta de amor”, destaca.
O colecionador lembra que, nessa época, quase ninguém viajava, então a fotografia era feita principalmente para ser enviada a parentes e amigos. “Os papéis fotográficos já traziam impressos, no verso, linhas para colocar endereço e destinatário, tal qual um cartão postal”, explica.
Rumos da coleção
Como “aprendiz” de colecionador, José Inácio conta que não tinha noção de que rumo sua coleção iria tomar. “Primeiro fui descobrindo os locais para adquiri-las, depois delimitei o período. Os critérios de aquisição vieram com o tempo, como a raridade do processo fotográfico ou a beleza estética ou afetiva. Eu nunca escolho uma fotografia por ter sido feita por um profissional famoso ou por ser de alguma personalidade”, afirma.
Definir geograficamente foi outra decisão difícil: “A principio pensei em só reunir fotos brasileiras. Mas e as fotografias de imigrantes feitas no estrangeiro e enviadas para descendentes vivendo no Brasil, por exemplo? Tive que tornar um critério mais flexível”. O curador destaca essas fotos como um charme a mais na exposição. “Tenho, por exemplo, algumas doadas por amigo judeu, com dedicatórias em ídiche, de uma avó que era bailarina no Teatro de Moscou”, conta.
Essa riqueza de material fez José Inácio reservar uma parte da exposição aos imigrantes russos, poloneses, judeus, alemães, árabes, franceses, espanhóis e portugueses. “Eu digo que eles foram todos afluentes de um grande rio chamado Brasil”, resume.
“Rio de memórias” e interatividade
Uma área da galeria do BNDES foi transformada em uma mini sala de cinema, onde é exibido, ininterruptamente, o documentário “Rio de Memórias” (1987), de José Inácio. O média-metragem faz um paralelo entre a história da fotografia e a da cidade do Rio de Janeiro. Todo montado através de fotos, cita, entre outros, Henrique Klumb, pioneiro na fotografia estereoscópica; Dom Pedro II, que organizava coleções e premiava fotógrafos de destaque; além das técnicas primorosas de Marc Ferrez. Tudo isso mesclado aos relados sobre mudanças sociais e políticas da cidade.
A exposição disponibiliza ainda três monitores para o público interagir. O primeiro dá acesso para pesquisa na coleção completa de José Inácio; o segundo com o Dicionário das Famílias Brasileiras, de Cau Barata; e um terceiro com filmes sobre fotografia.
Outro item de interatividade é o livro “A estereoscopia no Brasil” (1999), que poderá ser manuseado pelos visitantes. Lançado em 1999 por José Inácio, a edição conta um pouco dessa técnica pouquíssimo conhecida, bem utilizada entre 1855 e 1955. Nela, duas fotografias, quando vistas através de um óculos especial, produzem uma imagem tridimensional.
Sobre José Inacio Parente
Nascido em 1942 em Fortaleza (CE), é psicanalista e produtor cultural. É autor e diretor do filme Rio de Memórias, ganhador de 12 prêmios em festivais nacionais e internacionais.Como diretor, produtor e fotógrafo, assina os filmes Acorde Maior, 1984; Com a Música na Mão, 1982; A Divina Festa do Povo, 1984; Mulaqat, longa metragem realizado na Bengala Oriental, Índia em 2008; e A Trama da Rede, 1980, também com prêmios no Brasil e no exterior.
Ao lado de Patrícia Monte-Mór, sua mulher, fundou a Interior Produções, onde é diretor desde 1987. Com ela coordenou e produziu 15 edições da Mostra Internacional do Filme Etnográfico. Foi curador de várias exposições fotográficas e fez oito exposições individuais.
Recebeu Título de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro em 2005 e Medalha de Honra atribuída pelo Arquivo Nacional, comemorativa dos 25 anos de realização do filme Rio de Memórias, considerado pela TV Cultura, na passagem do século, um dos 100 melhores filmes brasileiros do século XX. Publicou mais de dez livros na área da psicologia e na área da fotografia, como o “Pai Presente” e o mais recente “Praias do Sol”, resultado de uma expedição que organizou para fotografar o nordeste brasileiro em 2015. Como psicanalista, trabalha em seu consultório desde 1972.
Serviço
Exposição Retratos da família brasileira 1850 – 1960
Local: Galeria do Espaço Cultural BNDES
Endereço: Avenida Chile, 100 (perto do metrô Carioca)
Data: de 27 de julho a 9 de setembro, de segunda à sexta-feira
Horário: das 10h00 às 19h00
Visitas guiadas: segunda a sexta às 12h30; quarta e quinta, às 12h30 e 18h15.
Entrada franca
Mais informações: www.bndes.gov.br/espacobndes