Do Portal Betioli, por Luana Castro

Traumas, depressão, comportamento antissocial e, em casos mais sérios, até morte. Esta é a realidade de muitas pessoas que sofrem ou sofreram o bullying (palavra inglesa que significa violência física ou psicológica). Por reconhecer a gravidade do problema, a Cia Atores de Mar, de Jacarepaguá (RJ), há doze anos viaja pelo Brasil, combatendo o problema ao levar a peça ‘Bullying’ às escolas, empresas e igrejas.

Em entrevista ao Portal Betioli, Patrick Moraes e Junior Beéfierri, atores da peça teatral o BULLYING, juntamente com Mar’Junior, diretor e roteirista do espetáculo, falaram sobre o projeto Eu digo não ao Bullying, a dinâmica das apresentações e métodos para combater o Bullying.

Como surgiu a ideia do projeto “Eu digo não ao Bullying”?

Em 2003, o diretor Mar’Junior teve o primeiro contato com a palavra ”bullying”. Tinha acontecido uma tragédia na Europa, onde um aluno entrou na escola com uma arma e atirou em todos. Procurando o significado dessa palavra e se aprofundando mais no tema, Mar’ descobriu que tinha sofrido bullying na infância e, depois, praticado. Por isso, a Cia Atores de Mar’ resolveu criar o projeto como forma de conscientização para as crianças e adolescentes do nosso país.

Além dos atores, quais os profissionais por trás deste projeto? Psicólogos, pedagogos? Alguém da equipe já sofreu bullying?

Patrick Moraes e Junior Beéfierri, além de atores do espetáculo BULLYING, são professores. Na Cia temos uma preocupação com a formação do cidadão. Todos os nossos projetos focam na educação, inclusive temos uma Escola de Teatro, onde pessoas de todas as idades estudam gratuitamente. Os custos da nossa Escola são bancados pelas apresentações de BULLYING e SUPER AÇÃO – teatro de improviso. Além disso, Mar’Junior sofreu bullying e leva esse projeto como missão para que as pessoas não passem pelo que ele passou, chegando inclusive a tentar o suicídio. A atriz Vick Damascena também entrou no espírito da Cia Atores de Mar’, pois ela ainda é estudante e pode presenciar diversas situações em seu ambiente escolar, iguais as que o nosso público-alvo enfrenta.

Qual a dinâmica das apresentações? Como fazer com que os adolescentes se interessem pelo tema? Como é a interação do público?

BULLYING consiste em quatro esquetes alternadas por músicas coreografadas, os atores cantam e dançam em cena, a primeira esquete é jornalística, explicando através de pesquisas o que é o bullying, nas cenas seguintes são interpretadas cenas do cotidiano dos alunos em sala de aula, o cenário mostrando exemplos de bullying e uma das formas para se resolver o problema. O espetáculo foi criado com o intuito de fazer com que os alunos se vejam em cena e realmente isso acontece, trazendo a atenção de todos que interagem muito durante todo o espetáculo.

Em mais de dez anos do projeto, dá para fazer um balanço do perfil de pessoas que sofrem e dos que praticam bullying ?

Já viajamos por todo o Brasil, nos apresentando em todos os tipos de escolas, para todas as classes. O balanço que dá para fazer é que em todos os colégios há o problema do bullying, alguns com menos gravidade, mas ainda sim existem. Não há um perfil específico para sofrer bullying, todas as pessoas estão sujeitas a isso, apesar de pesquisas apontarem que, geralmente, quem sofre são as pessoas tímidas e com alguma característica marcante, como obesidade e baixa estatura. E em muitos casos, quem sofre acaba se tornando um agressor de uma outra pessoa, como uma forma de ”defesa”.

Sabemos que a ideia de que o bullying é algo recente é totalmente equivocada. Mas por que hoje em dia este assunto está em maior evidência?

As atitudes que caracterizam o bullying sempre existiram, o que entrou em maior evidência nos últimos anos foi o nome, quando a mídia começou a falar sobre o assunto, uma mobilização muito grande se formou e hoje em dia é um dos temas mais discutidos e realmente é um assunto importante quando as pessoas aprendem a diferença entre o que é brincadeira e o que é bullying.

Classificar uma ação como bullying depende mais da intenção do emissor (quem diz ou pratica) ou da forma que irá atingir o receptor (a sensibilidade do receptor)? Como diferenciar uma brincadeira do bullying?

O bullying se dá pela perseguição, se o receptor não se agrada com as ‘brincadeiras’ e elas persistem, é caracterizado o bullying. A brincadeira é quando as duas partes se entendem, quando um dos lados não está de acordo, não existe mais brincadeira.

O que fazer para acabar com o bullying?

Uma das soluções é a escola admitir que o bullying existe e com isso buscar soluções para acabar ou reduzir os incidentes, como já dissemos, esse mal existe em todo lugar, mas muitos tem medo de assumir, e obviamente, o respeito entre as pessoas que deveria ser fundamental, como diz o ditado, quando um não quer, dois não brigam. Mesmo assim, a Cia Atores de Mar’ desenvolve anualmente, no mês de outubro, a Campanha EU DIGO NÃO AO BULLYING, onde artistas, jornalistas e desportistas junto com os atores da Cia Atores de Mar’ gravam vídeos incentivando as pessoas a fazerem o mesmo com mensagens de não violência, mais amor, menos ódio, e é espalhada pelas redes sociais.