Marília Pêra é a grande homenageada da 25ª edição do troféu Oscarito no Festival de Cinema de Gramado
“Eu adoro Gramado!”. Esse foi o primeiro pensamento que Marília Pêra teve quando recebeu o convite da organização do Festival de Cinema de Gramado para ser a 25ª homenageada do troféu Oscarito, que será entregue na noite do dia 11 de agosto no Palácio dos Festivais. A distinção é destinada a grandes atores do cinema brasileiro e, nas suas bodas de prata, traz novamente à cidade gaúcha a consagrada atriz, que já levou para casa dois Kikitos: um em 1983, por “Bar Esperança – O Último Que Fecha”, e outro em 1987, por “Anjos da Noite”. “Volto ao Festival com muita alegria, e a minha expectativa é que tudo seja muito lindo”, comenta Marília.
Marília Pêra | Crédito Priscila Prada
A relação com as artes vem do berço – seus pais Dinorah Marzullo Pêra e Manoel Pêra também eram atores -, e o convívio com as artes desde a infância foi fundamental para o caminho que a pequena Marília viria a percorrer ao longo de sua vida. Já aos quatro anos, ela pisou pela primeira vez nos palcos com a tragédia grega “Medeia” e, a partir daí, só se aperfeiçoou: de espetáculos marcantes como a clássica montagem de “My Fair Lady”, com Bibi Ferreira e Paulo Autran, ao protagonismo de peças sobre figuras emblemáticas como Dalva de Oliveira e Maria Callas, o indiscutível talento de Marília Pêra ultrapassou as fronteiras brasileiras, chegando a diversos países do mundo. Na França, por exemplo, foi ovacionada pela crítica parisiense por sua personificação da lendária estilista Coco Chanel no espetáculo “Mademoiselle Chanel”.
Dos palcos foi para a TV, onde, em 1965, teve a sua primeira aparição em “Rosinha do Sobrado”, na rede Globo. Rosinha também é curiosamente o nome de seu primeiro papel no cinema, que veio logo dois anos depois da estreia na telinha. Em “O Homem Que Comprou o Mundo”, Marília Pêra começou sua trajetória cinematográfica com o pé direito: dirigida pelo saudoso mestre Eduardo Coutinho, dividiu a cena desta sátira do regime militar no Brasil com Flávio Migliaccio, Milton Gonçalves, Hugo Carvana, Cláudio Marzo e Raul Cortez. Desde então, foram nada menos do que 23 filmes sob a tutela de nomes como Cacá Diegues, Domingos Oliveira, Hector Babenco e Walter Salles.
Na memória da atriz estão os dois filmes que lhe consagraram em Gramado. Com “Bar Esperança”, as lembranças são para lá de carinhosas: “Esse é um filme que o querido Hugo Carvana dirigiu com muita soltura e improviso. Nós podíamos brincar como quiséssemos e ele ajustava depois. Tudo era uma brincadeira em ‘Bar Esperança’, mas uma brincadeira organizada, claro”, brinca Marília. Já em relação a “Anjos da Noite” a palavra de ordem durante as gravações foi dedicação. “Tive um papel relativamente pequeno, mas a experiência foi dificílima, já que filmávamos apenas a noite e era sempre frio. A produção também envolvia maquiagem, coreografias, vestidos costurados diretamente no corpo… Foi um desafio!”, relembra.
É impossível, no entanto, falar da carreira da Marília Pêra no cinema sem mencionar “Pixote – A Lei do Mais Fraco”. Dirigido por Hector Babenco em 1981, o longa garantiu o prêmio de melhor atriz na Boston Society of Film Critics Awards. Contando a triste realidade dos meninos de rua, “Pixote” viajou o mundo e conquistou ainda uma indicação ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. “Pixote foi fundamental para a minha carreira de atriz, pois me deu um aprendizado muito grande sobre cinema. Foi um filme que confirmou o que eu já sabia sobre essa realidade específica do Brasil. Quando vi pela primeira vez, me enchi de medo e orgulho. Medo pela crueza dos detalhes com que mostramos a realidade do abandono e orgulho de estar em um filme dirigido com tanta precisão”, comenta.
O reconhecimento nacional e internacional de público e crítica orgulha Marília Pêra, mas, quando pensa sobre tudo o que conquistou até aqui como atriz, diretora e bailarina, o que mais toca seu coração é a lembrança familiar: “Venho de uma família de atores que viveram uma época onde não existia divulgação ou incentivo ao teatro no Brasil. Meus pais, por exemplo, foram profissionais que se dedicaram a vida inteira a esta arte e morreram sem reconhecimento e com dificuldades financeiras. Eu já vivo uma outra realidade, e me deixa muito contente esse privilégio de viver uma época completamente diferente e de ter conquistado tantas coisas como atriz”.
A ampla trajetória de Marília Pêra no cinema será rememorada pelo Festival de Cinema de Gramado com o troféu Oscarito. “Eu adoro Gramado! E isso vem antes do próprio Festival existir. Quando ia a Porto Alegre, sempre viajava a Gramado de carro, por prazer mesmo, só por estar lá. Fiquei muito contente com a homenagem, já que, além de conhecer bem a importância do Festival de Cinema de Gramado, tenho uma grande família aí no sul. Quando vou a Pelotas, sempre aparece um primo, um tio ou um novo Pêra. Estar entre os gaúchos é uma grande alegria. É o meu ninho!”, conta. Marília Pêra recebe o troféu Oscarito na noite do dia 11 de agosto no Palácio dos Festivais.
Confira a filmografia da atriz:
2007 – “Jogo de Cena”
2006 – “Polaroides Urbanas”
2006 – “Nossa Vida Não Vale Um Chevrolet”
2005 – “Embarque Imediato”
2005 – “Living the Dream”
2004 – “Vestivo de Noiva”
2003 – “Seja o Que Deus Quiser”
1998 – “O Viajante”
1997 – “Happy Hours”
1997 – “Central do Brasil”
1995 – “Tieta do Agreste”
1995 – “Jenipapo”
1988 – “Dias Melhores Virão”
1986 – “Anjos da Noite”
1984 – “Mixed Blood”
1983 – “Areias Sagradas”
1982 – “Bar Esperança – O Último Que Fecha”
1980 – “Pixote – A Lei do Mais Fraco”
1978 – “O Grande Desbum”
1975 – “O Rei da Noite”
1973 – “Ana – A Libertina”
1969 – “É Simonal”
1969 – “O Donzelo”
1967 – “O Homem Que Comprou o Mundo”